Morre um homem sem medo
Já conheci homens e mulheres de coragem, mas sem medo foi somente um. Era um camarada, não era capoeirista, embora tivesse bagunçado algumas rodas. Lembro-me que na comunidade a qual eu fazia parte, ele era pioneiro, no uso da cola de sapato, maconha, merla, como diziam na época ele era cardápio, significava usar qualquer substância para ficar doidão.
Mas o uso de drogas o levou a morte, mas antes, bem antes do seu organismo não agüentar as doses de álcool e crack e sucumbir abruptamente em um colapso aos 39 anos de idade. Este camarada era uma liderança, sem medo, sagaz, com uma inteligência incomum. Mas a escola não foi o seu caminho, ele escolheu viver a margem do convencional, foi marginal e marginalizado em todas as formas que a nossa sociedade sabe vociferar.
Não conheci a família dele, o conheci nas ruas, da mulherada que era amante, da fama, das brigas, das garrafadas que deu e dos tiros que levou. Este cara foi meu amigo, me tirou de confusões, me apresentou várias gatas, nunca me ofereceu um baseado, nunca me desrespeitou.
Ele, senhores, poderia ter sido, médico, advogado, polícia, mestre de capoeira. Mas morreu jovem, sem filhos, sem história (?), mais um.
Mas como eu disse, era meu amigo, não tinha medo e nem arrependimento, era um valentão. Então, eu sei o que é ter sangue no olho, vejo alguns jovens o tempo todo com raiva, sem florescer, sem militância, alheios a história.
Agora, eu posso e faço parte de um movimento que sensibiliza, mostra esperança e solidariedade. Tendo como objetivo salvar jovens, mostrar negritude, cultura e diversidade. Este amigo desencarnado, Oxalá o tenha, poderia ter sido (sei que não existe “se” na história) um novo Zumbi, João Cândido, Bimba, o que desejasse.
Portanto, vamos passar com nossa dor, vamos salvar vidas, com o nosso movimento de Educadores Populares. Com a galera do grafite, skate e nossos camaradas capoeiristas. Senhores, a capoeira não é somente esporte, não é somente arte, não é somente cultura, é vida, é movimento, é liberdade, sem dono, sem coleira.
“Lobo que usa coleira, não é lobo, é cão” Esopo
Domínio público
Quilombola, Álisson Rafael
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